quarta-feira, 30 de janeiro de 2008




hoje abri o jornal
e das gordas que só leio
li uma que me fez
ir às pequenas:



PROCURA-SE:
Boneca de plástico

Última vez vista
vestia vestido
de artista de circo.
Percorre as ruas
de arranca-corações em punho.
Diz-se culta,
das que lêem das gordas e das pequenas,
das que falam de Jean Saul Patre
e versam sobre a espuma dos dias.
É PERIGOSA E MENTIROSA.
Zarolha de olho de botão.

A quem a vir
recomenda-se:
a máxima prudência;
pede-se:
a participação às autoridades;
aceitam-se:
corações de plástico.”

2 comentários:

BlueQuadroPhenia disse...

...também te abri nas gordas do jornal e encontrei-te entre trapos e lantejoulas, plumas e estolas...

...entre duas colunas e um anúncio, um parágrafo final, um ponto sem virgula e um travessão antes de uma reticências espremidas ao virar da página de ocasião...

...tinhas no pulso um relógio onde as horas perguntavam por ti segundos antes de não quereres saber delas...

...debaixo do braço um livro velho ou seria um braço velho debaixo de um livro novo?...não sei estou com pressa de te ler...

...reparei nos teus olhos encontrei lá no fundo um homícidio numa esquina, uma zaragata numa viela, um estupro numa noite de verão com promessas de amor num banco de jardim e tatuagens no ombro...

...bang bang, pum pum! Dores do sangue de plástico a encher o teu coração vazio. Fechei-te no jornal mal te acabei de ler. Apertei-te entre notícias da guerra no Iraque e do genocídio no Sudão. Deixei-te em boa companhia até que outro te leia outro dia...

Anónimo disse...

Procurei-te naquele insuflável desejo plástico depois do número de trapézio voador;

Esperei enquanto me enganavas numa ilusão de malabares e línguas de fogo...

Voei sobre ti
E caí na arena do circo
Onde te contorcionavas sôfrega
Ávida de ser nos gritos húmidos do amor que as feras na jaula abafavam rugindo ferozes ao zunir do chicote;

Rasgado o ar
Estremecido o teu corpo
O volteio alegre no galope da melancolia de te sentir...