terça-feira, 16 de julho de 2013



















o sol põe-se e é o fim do dia
e é o fim da tarde,
mas o princípio da noite.
chamo-lhe o momento “Serão…”.
chamo-lhe “Serão…”
porque serão os princípios dos amanhãs.

por isso quando cai a noite,
nesse momento “Serão…”,
os amanhãs serão como eu quiser.
do “Serão…” farei os amanhãs  com manhãs
luzidias
frescas
de céu azul
e cheiro a maresia.
amanhãs
de toda a forma e feitio.

um espasmo de um eu diferente por cada amanhã
tantos eus tantos amanhãs com manhãs
tantos momentos "Serão…” que se passa a noite
e adormeço.

segunda-feira, 15 de julho de 2013



















provei um grão de areia
para saber a que sabia o que sabia o grão de areia.

sabia a sal
e sabia sobre cada amarra que matou aquele Ulisses

sabia daquele Ulisses e de tantos outros
tantos mais que todas as sereias, ninfas e tágides
possíveis de imaginar
incapazes de os salvar.
tantos Ulisses perdidos, à deriva
uns amarrados outros loucos mas todos sós.

isto era a que sabia o que sabia este grão de areia.
pensei em Penélope e olhei o areal.

















sexta-feira, 12 de julho de 2013



















esqueci-me do impessoal
do vocabulário enganosamente rico
esqueci-me dos esconderijos
por detrás da folha branca
reduzida a palavras domésticas
das histórias dos outros ou pior
das minhas histórias.
esqueci-me da fórmula secreta
que esconde o género
sumindo-o a um preâmbulo.











... que só sabia desenhar
não falava nem escrevia
só desenhava
um dia voltou-se para ver o que tinha desenhado.

e depois
continuou
continuou
continuou
e voou, voou, voou…

sexta-feira, 5 de julho de 2013

a espera da noite faz-se sentada.




















a espera da noite faz-se sentada.
quando o dia raia é melhor levantar-me para que 
os pássaros 
e os bichos 
percebam que é de dia.
e só me sento para perceberem que devem ir descansar.
e aguardo. talvez não chova hoje.
hoje é dia cinco de julho de dois mil e treze.

não deve chover.