
perguntou um dia a negrinha
porque é que eles têm medo de mim?
os seus grandes olhos redondos
apenas se detinham na pergunta.
nada para além do pequeno incómodo.
são meus os teus olhos
tua ingenuidade o início da minha solidão
no dia seguinte encontrei-a sentada no chão
em desenhos ao acaso na ponta de gravetos.
levantava poeira
porque é que eles têm medo de mim?
os seus grandes olhos redondos
apenas se detinham na pergunta.
nada para além do pequeno incómodo.
são meus os teus olhos
tua ingenuidade o início da minha solidão
no dia seguinte encontrei-a sentada no chão
em desenhos ao acaso na ponta de gravetos.
levantava poeira
e os seus pés aconchegavam-se na terra seca.
sentindo a minha presença, sorriu.
ofereceu-me uma flor.
mais um dia passou
e outro
e outro
e a negrinha lá estava
com poeira, gravetos e flores.
muitos dias depois,
da negrinha eu só via dois traços de lágrimas
desenhados no rosto empoeirado.
à sua volta
sentindo a minha presença, sorriu.
ofereceu-me uma flor.
mais um dia passou
e outro
e outro
e a negrinha lá estava
com poeira, gravetos e flores.
muitos dias depois,
da negrinha eu só via dois traços de lágrimas
desenhados no rosto empoeirado.
à sua volta
um jardim desconexo de flores de terra seca.
não me viu.
passaram-se muitos mais dias
sem que em nenhum deles
não me viu.
passaram-se muitos mais dias
sem que em nenhum deles
eu tivesse a coragem de a procurar.
um certo dia,
lembrando-me do que uma vez me perguntara,
procurei-a.
encontrei então a resposta:
ninguém tem medo de flores.
um certo dia,
lembrando-me do que uma vez me perguntara,
procurei-a.
encontrei então a resposta:
ninguém tem medo de flores.
1 comentário:
Há palavras que nos beijam
como se tivessem boca. E eu fico com sabor a "quero mais". Parabéns! :)
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